A apresentação de conclusão de curso me surpreendeu pelo inusitado. E isso não decorreu da estranha emoção de ver apresentações cênicas novamente ocupando aquele ex-teatro (há uns dez anos conhecido como cine-teatro José Carlos Cavalcanti Borges e hoje Cinema da Fundação), uma ocupação provisória, improvisada e apaixonada. Isso foi emocionante, mas não surpreendente. Minha surpresa veio da constatação de algo que deveria ser óbvio - e que no fundo não é tão óbvio assim: não se atribui glamour (ou valor) ao desnudamento dos processos que envolvem a feitura artística e muito menos à exposição sem disfarces de nossa real e falível natureza humana. Porém, independentemente do glamour ou valor atribuídos, pode haver aí, sim, muita e genuína diversão, daquelas que só as crianças bem pequenas parecem ser capazes de acessar. Enquanto adultos, só podemos usufruir dessa alegria no jogo da criação, quando vencemos o medo de nos expor, de reconhecer e lidar com nossos erros, o que nos levaria à liberdade criativa da criança incorporada à consciência dos conhecimentos acumulados em nossa passagem por este mundo. Até alcançar esse despreendimento, contudo, há um desafio, pois nos veremos expostos aos efeitos de conflitos - conflitos com os outros, com nós mesmos e com a própria vida. Naquela noite de celebração, extremamente simples e profundamente reveladora, foi bom ver que demos um passo na tentativa de ver o processo de criação de um modo menos preconceituoso, de nos aproximarmos dos nossos erros sem vê-los como motivo de receio e ocultação, mas como incentivo para iniciar diálogos, reestruturar projetos e garantir a existência do sonho e da realização deles. Enfim, entendi que não há muita diferença entre errar e acertar, quando se constata que ambos - entendidos como duas faces de uma mesma dinâmica - podem ajudar qualquer um a crescer. E isto será só um começo para quem assim o quiser.
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