domingo, 29 de novembro de 2009

O bicho pegou!

E começou o ciclo de gravação dos quatro episódios criados pelos participantes do GED, dando continuidade aos trabalhos da minissérie desenvolvida por todos nós neste segundo semestre do TelaTeatro. A partir desta semana até o dia 23 de dezembro, as histórias específicas dos nove personagens serão gravadas em locações diversas, com a participação de vários atores convidados. Atualmente seguem os trabalhos de pré-produção (pré-locação, autorizações, convites, definição de figurinos e adereços, ajustes de questões técnicas e logísticas em gerais). Veja mais detalhes do processo, aqui, ainda esta semana.

quarta-feira, 25 de novembro de 2009

Os episódios e a criação em grupo

A discussão mais quente deste semestre teve a ver com a idéia de "liberdade de criação". Antes de começarem os estudos e práticas envolvendo o melodrama - e, especificamente, a criação do universo da minissérie - os participantes do GE de Dramaturgia eram estimulados a dar vazão ilimitada às suas idéias, usando para isso apenas as indicações de gênero e linguagem dramatúrgica. Recebiam provocações e as desenvolviam como queriam e, ainda que não se atingissem os objetivos de escrever com inspiração neste ou naquele gênero, todo resultado sempre era enfatizado como algo válido em seu contexto de criação. O trabalho com o melodrama mudou essa prática. O grupo teve dificuldades em lidar com o modo de criar exigido pelo novo gênero, uma dinâmica que, a primeira vista, parecia sufocar a liberdade do autor. Acontece que, no melodrama, o gosto do público é a referência prioritária e isso pode mesmo dar a impressão de que o livre-arbítrio do autor foi domado ou até morto. Estamos nos dominios de um gênero cujas histórias são construídas visando prender a atenção do espectador. Para isso, valem todos os recursos possíveis: personagens cativantes como protagonistas; desdobramento da ação levando a sucessivos confrontos e desafios; circunstâncias inusitadas, cenários exóticos, mistérios, surpresas. O formato de minissérie adotado no GED também introduz um outro condicionante que não esteve presente até aqui nas atividades dos grupos de estudos: para que haja unidade na criação dos vários autores envolvidos, deve ser definido um universo ficcional de referência, com leis próprias, personagens e possibilidades de relação entre eles. Não se trata mais de um simples "mote" ou provocação. Nesse contexto de minissérie melodramática, cada passo dos autores precisa considerar essas referências. E aqui fica claro que a liberdade de criação não foi necessariamente abolida. Ao contrário, será provocada a ampliar seus potenciais. Assim, essa liberdade deverá ser interpretada de maneira distinta do que se fazia nos exercícios com outros gêneros, histórias autocentradas cujo único compromisso era com o prazer do autor. O desafio agora é um estranho e instigante paradoxo: ser livre a partir de limitações, fazer dos limites uma fonte infinita de idéias, provocações e prazer. O autor de melodramas terá que aprender a se deixar surpreender, se quiser que o público se surpreenda com suas obras.







terça-feira, 24 de novembro de 2009

O episódio de abertura

Com as gravações praticamente concluídas, o primeiro episódio teve o objetivo de amarrar as referências criadas pelos atores e dar uma base para tudo o que fosse criado dali por diante. O roteiro foi nascendo aos poucos, num diálogo entre as idéias dos atores, as práticas e improvisos em torno de cenas-chave e as discussões com os dramaturgos acerca do universo de onde vinham os personagens centrais. Essas cenas-chave se caracterizavam por revelar traços de cada personagem e de sua relação com os demais, tanto em termos de sua corporalidade (aparência, postura) quanto de seu interior (intenções, temperamento, modo de reagir, de se expressar). Interessante é que, para um espectador, a observação da ação em uma cena sempre evidencia o que o corpo necessariamente não explicita, sobretudo se for um improviso. Graças a esses exercícios, muito do que esses personagens ocultava também ficou claro para atores e dramaturgos (a dor da perda esclarecendo o aparente desequilibrio de Marana; o medo do desconhecido explicando a antipatia de Latika; o auto-domínio por trás das intervenções brincalhonas de Khassim; a força, disfarçada sob a aparente fragilidade de Céu e Vida e a fragilidade, guardada sob a força aparente de Minussi e Ávana). As cenas-chave abordavam (a) o temor de Céu de não controlar sua força e a tranquilidade de Ávana em relação à amiga; (b) o desconforto de Latika no novo mundo e a aparente implicância de Khassim; (c) o estranho e permanente trânsito de Marana entre a raiva, a tristeza e o encantamento; e (d) o confronto das amigas Vida e Minussi diante do desaparecimento das filhas desta.


segunda-feira, 23 de novembro de 2009

Cinco episódios

Os dramaturgos do GED estão finalizando seus roteiros para os cinco episódios da minissérie que foi criada em uma dinâmica entre os participantes dos dois grupos de estudos do Projeto TelaTeatro. O primeiro episódio, cujas gravações estão sendo concluídas, aborda a saída dos nove habitantes de Stufana, a misteriosa cidade erguida no centro-oeste do Brasil em 1959. Esse episódio, que introduz o temas e os personagens centrais, foi escrito por mim a partir das referências criadas pelos atores do GETA e desenvolvidas pelos dois grupos. Os quatro episódios seguintes abordam o que acontece com os nove stufanens, depois que eles se separam para realizar suas "tarefas" em nosso mundo. Cada grupo de personagens tem um episódio específico, sob a responsabilidade de uma equipe de dramaturgos: Ávana e Céu (Diego Albuck, Fabiana Coelho e Ruy Aguiar); Latika e Khassim (Amanda Torres, Edivane Batista e Laura da Hora); Marana (Cleyton Cabral, Márcio Andrade e Maria Pessoa); Minussi, Vida, Sol e Hannah (Elton Rodrigues, Giordano Castro e Onézia Lima). O intensificação dos trabalhos coincidiu com responsabilidades assumidas por alguns dos dramaturgos fora do âmbito do Projeto, o que atingiu quase todas as equipes. Nem todos puderam acompanhar o ritmo crescente do processo e atualmente só a equipe de Minussi e Vida segue em sua formação original. Edivane e Fabiana já declararam sua impossibilidade de continuar, embora permaneçam próximas e colaborando com o trabalho. Diego, Laura e Maria se organizam, cada um a seu modo, para compensar as faltas.





domingo, 22 de novembro de 2009

Bonito: Jornada concluída

Fim de sexta-feira, fim da viagem, exaustos, 20h30, diante da Fundação Joaquim Nabuco do Derby. Esse momento pode ser resumido na imagem de Edivane, Maria Luisa e Anaïs, logo depois de saírem do ônibus. Ruy, marido de Edivane, chegaria instantes depois para levar as três para suas respectivas casas (Anaïs é filha de Fabiana e Cajá). A próxima etapa? Deixa para pensar isso amanhã, depois de um belo descanso...

Veja aqui no blog, a partir de amanhã, uma série diária de posts mostrando como andam as atividades do pessoal do GED, o Grupo de Estudos de Dramaturgia.




sábado, 21 de novembro de 2009

Bonito: Véu da Noiva

Na viagem de pré-produção havíamos escolhido a cachoeira Barra Azul como locação para duas cenas importantes. De acesso fácil, seria o lugar ideal para trabalhar sem perda de tempo, com a vantagem de poder terminar o dia aproveitando para relaxar naquelas águas antes de retornar ao Recife. Porém a Barra Azul estava tomada de turistas, com aparelhos de som. Como dependíamos de silêncio para gravar os vários diálogos previstos, a presença inesperada de visitantes ruidosos detonou com todos os planos. A saída foi respirar fundo e galgar os 2 km morro acima na direção da cachoeira Véu da Noiva, linda, mas de acesso difícil. E com essa mudança, lá se foi nosso tempo. O sol desceu rápido. Uma das cenas acabou ficando pela metade (a principio decidiu-se cortar esse trecho da cena, mas posteriormente se veria que era possível gravar o restante em alguma mata perto de Recife). Eram cinco da tarde quando constatamos que não tinhamos mais condições de luz. Mas, ainda era possível nem que fosse um trisquinho de água de cachoeira sobre a cabeça. Todo mundo encarou as pedras escorregadias do Véu da Noiva e foi tomar o esperado banho.


sexta-feira, 20 de novembro de 2009

Bonito: Hora de comer

Continua aqui o diário das gravações da nossa minissérie. Hoje falamos da alimentação da equipe durante as locações diurnas. Ao lado da casa-sede da propriedade de Dona Margarida há um terraço onde ela serve aperitivos, bebidas e refeições aos que passam por ali para visitar as cachoeiras. Como boa cozinheira que é, preparou uma refeição ajustada às características do grupo. Poucos comiam carne vermelha. Ela não se intimidou. Mestra do arrumadinho com charque e da galinha de cabidela, surpreendeu oferecendo três tipos de peixe (ironicamente raros na região) e três tipos de feijão (mulatinho, verde e macassar), além de saladas de verduras e legumes e uma saborosa fava com galinha guisada. Entendamos uma coisa: a propriedade fica a 25 km (7 km de barro) da cidade mais próxima e nem sempre é possível encontrar tudo o que se precisa. Sandra e Lila, filhas de Dona Margarida, mesmo tendo avisado antes que talvez não conseguissem atender todas as necessidades do grupo, deram conta de tudo. O resultado é que o grupo adorou o almoço e levou no coração a lembrança do carinho e do talento dessas três mulheres de Bonito.



quinta-feira, 19 de novembro de 2009

Bonito: As gravações diurnas

Hoje tem o relato das gravações diurnas da nossa minissérie no segundo e último dia da jornada à Bonito. Não tem muito o que falar sobre isso, senão: trabalho, trabalho, trabalho, trabalho. Textos decorados, intenções revisadas ou até reformuladas. Sugestões, tentativas e erros (nem todo ângulo funcionava, nem todas as marcas rendiam boas imagens). Ruídos inesperados (rádio ligado no vizinho, um ou outro carro passando, perus, galos, cães), muito sol, calor, poeira, paciência e impaciência, talento, alegria, sono, euforia... "Será que a gente vai ter tempo de tomar banho de cachoeira?" Mais tarde, por volta das 16h30, constataríamos que ainda havia muito a se gravar...







quarta-feira, 18 de novembro de 2009

Bonito: Preparação de terreno

Continuamos a contar como ocorreram as gravações da minissérie em Bonito. Felizmente a estrada de barro que nos conduziu à propriedade de Dona Margarida estava em boas condições, apesar da chuva forte que caiu logo cedo. Isso foi um alívio, pois a previsão era de que, nessa propriedade, gravaríamos todas as diurnas previstas. Lá havia infra-estrutura de apoio e todos os cenários naturais de que necessitávamos. Logo ao chegar, alguns adereços tiveram que ser complementados, como a caixa de Ava e Avento (que seria posteriormente enterrada para ser descoberta pelos stufanens). Muitas cenas, muitas locações, muitos atores atuando ao mesmo tempo. O desafio era grande e o tempo era curto. Para dar conta da pauta do dia eram necessárias - na verdade, imprescindíveis - organização e concentração. E assim foi.





terça-feira, 17 de novembro de 2009

Bonito: A chuva do dia seguinte

E segue aqui a série de registros das gravações da nossa minissérie. Hoje abordamos o início das atividades no segundo e último dia de trabalhos em Bonito. Se o pessoal do hotel deu a maior força no dia anterior, acolhendo as gravações e ajudando no que foi possível, a manhã do dia seguinte trouxe a surpresa de que o café não seria servido às 6 horas, como havia sido acertado: "a menina esqueceu de avisar à cozinheira", disseram. Ora, a produção abordou esse ponto duas vezes na pré-locação e uma terceira vez na chegada. A administração havia nos garantido que o café sairia mais cedo. Paciência. Saímos uma hora e quinze depois do previsto. Ainda não havíamos deixado a cidade quando, para nos deixar ainda mais preocupados, caiu um pé d'água absurdo. Pingos grossos como raramente se vê. Meia hora de chuva. A primeira locação do dia ficou nublada e com acesso complicado. Imagens apenas razoáveis. O vento estava forte, não deu para gravar o áudio. Será necessário voltar posteriormente sem o elenco à esta locação para captarmos panorâmicas e por-de-sol. Dali seguimos para a locação seguinte, temendo o estado da estrada de barro atingida pela chuva. (continua amanhã)









segunda-feira, 16 de novembro de 2009

Bonito: A clareira no hotel

Os registros das gravações da nossa minissérie continuam. Hoje o foco é a preparação das cenas noturnas no terreno de um hotel em Bonito. A escolha do local evidentemente considerou a aparência do cenário, mas privilegiou a conveniência técnica: era próximo dos alojamentos e dispunha de energia elétrica para a iluminação. O desafio maior foi para o diretor de fotografia Júlio Ribeiro, que teve que iluminar uma área de 100 metros quadrados de modo a simular a luz da lua. Com o apoio do motorista Ricardo Gusmão e do estagiário de produção Bruno França, distribuiu focos numa única direção, recorrendo a gelatinas azuis para reforçar o efeito. Combinado com a luz alaranjada das chamas da fogueira, o resultado da proposta de Júlio ficou natural e muito bonito. Mas houve restrições. O limite da área de enquadramento ficou bem pequeno. Além dos cuidados que tive para não projetar sombras no elenco nas tomadas em movimento, havia uma edificação ao fundo que não poderia aparecer. Isso inviabilizou a realização de alguns contra-planos, exigindo longas tomadas de diálogos e, consequentemente, um bom domínio de marcas e textos por parte dos atores.





domingo, 15 de novembro de 2009

Bonito: Chegando para trabalhar

Dando continuidade aos nossos registros sobre as gravações da nossa minissérie, hoje falamos da preparação dos atores antes das noturnas. Ao chegarmos ao hotel em Bonito, ainda dia claro, os atores visitaram rapidamente o set. Depois tiveram apenas meia hora para se acomodarem em seus apartamentos e retornarem ao saguão para as instruções de continuidade dos trabalhos. Cenas-chave foram lidas e ensaiadas antecipando os momentos supostamente mais difíceis, aqueles que teriam todo o elenco interagindo numa mesma sequência. Após o jantar, as gravações começaram às 19h e duraram até as 3 da manhã. Duas cenas não puderam ser gravadas por problemas de áudio: cães não paravam de latir ao longe na madrugada, o que perturbava a idéia de que os personagens estavam longe dos grandes centros. Eduardo Japiassu e Hermínia Mendes ficaram perplexos, pois esperaram a noite toda para gravar e, na hora H, foi tudo cancelado. As duas cenas que faltaram seriam adaptadas posteriormente para ambientes diurnos.







sábado, 14 de novembro de 2009

Bonito: Atrizes mirins

Os registros do trabalho da nossa minissérie para internet continuam aqui. Hoje falamos das atrizes mirins, Maria Luisa Aguiar (filhas dos atores/promotores culturais Ruy Aguiar e Edivane Batista) e Anaïs Coelho (filha do analista de sistemas Cajá e da atriz Fabiana Coelho). Lidar com crianças tem suas dificuldades, sobretudo na comunicação: como fazê-las compreender a necessidade das coisas acontecerem desta ou daquela maneira numa gravação. Se Anaïs ficou à vontade e se divertiu muito em seu papel, Maria Luisa muitas vezes se aborreceu e botou a boca no mundo. Nada de choro, mas de reclamação, mesmo, cara feia e indignação: é NÃO, e pronto! Dá para entender. Ela só tem cinco anos, estava no meio de um cenário paradisíaco e tinha que ficar sentada, parada, diante de um barbudo xereta com uma câmera muito chata. Anaïs, um pouco mais velha, já demonstrava ter uma noção clara do que seja representar. Surpreendia a todos com uma paciência incomum para a idade e com idéias interessantes para a cena, como uma seleção de poses ultra-realistas de criança dormindo, incluindo várias com boca entreaberta. Quando pensávamos que Anaïs estava dormindo ela abria os olhos e, acordadíssima, perguntava "esse jeito está bom?". Como diretor, aprendi o óbvio: para se estabelecer um mínimo de comunicação com crianças no set é imprescindível abandonar a ansiedade, relativizar o peso das responsabilidades, flexibilizar roteiros e permitir-se entrar numa dimensão de receptividade extrema. Senão, a tomada tão necessária poderá se transformar numa cara de indignação que insiste em olhar direto para a objetiva da câmera.