domingo, 21 de junho de 2009

Texto 03 - "O fogo da lareira"

Ruy Aguiar também recorreu ao gênero épico para construir sua breve e intensa incursão no frio de uma paisagem européia, num texto criado em 06 de maio de 2009. Arthur Canavarro (na foto, no final do corredor), a quem coube representar esta cena, enfatizou a melancolia e a solidão contidas na obra construíndo seu improviso como a longa caminhada de um ancião através do corredor-palco, partindo de um trecho vazio (onde a imagem da solidão fica mais evidente) até encontrar-se com a concentração de espectadores. Com voz grave e clara, o ator-personagem aproximou-se lenta e decididamente, atravessando a platéia como a própria velhice se acerca e penetra a todos. Saiba mais sobre estas apresentações clicando aqui.

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ATOR-PERSONAGEM
Fazia muito frio nessa época do ano no interior da Áustria. Todos os dias Constantin tinha que andar dois quilômetros na neve, para poder achar alguns galhos secos e aquecer a velha lareira de sua pequena casa na montanha. Nesse dia, especialmente, teve muita dificuldade de transportar os galhos, por estar com uma grande ferida na mão esquerda, de uma queimadura que levara há alguns dias. Quando chegou em casa ainda encontrou Rebeca enrolada entre os lençóis. “Minha filha, você ai passar o dia inteiro nesse cobertor?”. “Papai, hoje estou com muito frio e o fogo da lareira está quase apagado”. O pai olhou para a filha e foi colocar a lenha na fogueira. “Acho que agora vou conseguir me levantar”. Naquele ano estávamos sós naquela montanha gelada. Todos os outros moradores tinham ido para casa de parentes, porque todos sabiam que seria um inverno muito rigoroso.

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