segunda-feira, 6 de julho de 2009

Texto 18 - "Quero ser a Barbie quando crescer"

Cleyton Cabral oferece no texto desta cena uma outra abordagem da Menina dos suspiros, desta vez sem precisar mencionar os suspiros. Com enfoque mordaz e bem humorado – que vem se configurando como uma marca de Cleyton em seus trabalhos – o autor constrói a personagem num tempo-espaço onde se mixam imagens poéticas, ironia e crítica de costumes. O ator Arthur Canavarro fez uma leitura dramatizada desta cena e, a exemplo de outros atores que se depararam com desafios semelhantes, dispensou a facilidade de uma apresentação afetada e de mero apelo ao riso da platéia para focalizar-se na delicadeza da personagem. Sem pretender ser naturalista na abordagem (até porque se tratava de um homem representando uma menina), o resultado que o ator obteve foi fiel ao espírito original do texto, tocando o risível sem exagerar no ridículo. A simplicidade dessa construção, aliada a um andamento sem pressa, ajudou a valorizar falas e interpretação, destacando nuances de intenções e humanizando a personagem.

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MENINA
Será que terei o corpo igual ao da minha Barbie Sonho? Aiii, é o meu sonho. Ela é tão magrinha, tão branquinha, com esses cabelos dourados. Quero ser a Barbie quando crescer. Mas, como? Se sou gordinha, pretinha e tenho o cabelo pixaim? Mas Michael Jackson também era pretinho e quando ele cresceu, ele ficou branquinho como o Ken. O Ken é tão bonito, os olhos azuis, parece um anjo. Só não tem asas. Eu também não tenho asas. Queria voar como passarinho, bem alto, lááááá em cima. Lá no céu e ver tudo pequenininho como uma formiga. Sonhei com uma formiga que voava. Ela tinha os cabelos loiros e os olhos azuis e era bem branquinha, como a Barbie. Ai, eu queria ser a Barbie. E encontrar um príncipe encantado parecido com o Ken. E nós dois voaremos por aí, beeeeeeeem alto. Deitar nas estrelas e olhar pra baixo e chamar todas as formiguinhas-anjos. Eu gosto tanto desse joguinho de computador. Só tenho medo do homem de barba que diz eu te amo para mim. Ele fica querendo me ver na escola. Eu tenho medo dele. Coloquei todas as minha Barbies na porta de casa.

2 comentários:

  1. O exercício teatral, além de nos condicionar para o palco de um teatro, também nos prepara para os palcos da vida...LEGAL...

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  2. Concordo, Nelson. A prática teatral espelha e dialoga com a vida de muitas maneiras.

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