sábado, 4 de julho de 2009

Texto 16 - "Está com pena de que?"

Escrito por Elton Rodrigues em 06/05/09, o texto retoma o personagem Morgue, criado em um trabalho de equipe num dos encontros do GE de Dramaturgia (saiba mais sobre Morgue no post Texto 00 – “Olhe para a luz!”). Para criar o improviso no dia 15/06/09, a atriz Sofia Abreu usou velas para sugerir o velório indicado no texto e convencionar o espaço onde estaria o caixão. Desse modo ela pôde ter liberdade de, como o personagem, mover-se no espaço cênico e dar uma idéia de que “estava” simultaneamente em dois lugares: no caixão, como corpo, e com a platéia, como fantasma. Embora curta e ambientada em um instante do velório do personagem, esta cena faz ironia com a intolerância crônica de Morgue e ao mesmo tempo oferece um vislumbre mais claro do tipo de cenário – tanto objetivo quanto subjetivo – em que ele habitava antes de morrer.

- - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - -

MORGUE
Velha chata, imbecil, cricri. Todos os dias me acordando com aquele canário infeliz. Você não sabe o quanto eu te odiava... E todo dia vinte tava lá na minha porta (DEBOCHANDO) “Bom dia seu Morgue, vim buscar o condomínio”. Ah, como eu odeio que me cobrem. Pensa que eu não sei que a senhora gastava o dinheiro do condomínio pra comprar remédio pro seu marido? Sonsa. E não vem com essa de chorar em frente ao meu caixão não. Tá com pena de que? Da minha morte eu sei que não é. Deve ser dos R$200,00 reais a menos todo mês, né? Ah, se você pudesse me escutar... Queria só um pouco de voz pra você morrer junto, dona Judite. A gente ia apostar corrida pro inferno. (DONA JUDITE CONTINUA CHORANDO, SEM OUVIR NADA DO QUE MORGUE FALAVA)

Nenhum comentário:

Postar um comentário