Com um efeito oposto ao utilizado pelo ator Eduardo Japiassu para o texto de Onézia Lima (ver post Texto 04 - Eu a quero perto de mim), a atriz Thaianne Cavalcanti valeu-se da proximidade com a platéia para explorar as possibilidades de uma relação direta com os espectadores. Se o texto criado por Telma Ratta soa tão confessional quanto o de Onézia, na abordagem que Thaianne apresentou em 15/06/09 ele é colocado como uma lúdica e explícita partilha de instantes e impressões íntimas oferecida sem inibições para uma roda de pessoas - que podem ser amigos ou estranhos, isso não parece importar à personagem Quitéria. Demonstrando estar muito à vontade com a personagem, tanto a autora quanto a atriz permitiram um vislumbre de outros aspectos do interior daquela mesma menina apaixonada por suspiros já vista em outras cenas.
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QUITÉRIA - Todos dizem que sou precoce. Que apesar de tão pouca idade, afinal são só dez anos de existência, às vezes me comporto, às vezes não, quase sempre me comporto como adulta. Um dia minha mãe me disse que eu era mais velha que ela. Perguntei: “como pode a filha ser mais velha que a mãe?” Ela explicou que as pessoas tem duas idades: uma do tempo em que ela nasceu e uma do tempo que sua alma anda no mundo. Minha mãe acredita que minha alma é sábia e que está reencarnando há cinco mil anos, no mínimo! Às vezes eu também acredito nisso. Às vezes não, quase sempre. Isso explica muitas vontades que tenho, principalmente minha amizade com pessoas mais velhas. Num gosto muito de conversar com pessoas da minha idade. Na verdade, meus melhores amigos já passaram dos trinta. A dona Gê, por exemplo, ela tem setenta anos e a gente conversa e se gosta tanto! Sinto que ela me respeita, conversa comigo de igual para igual. Diz coisas que nem o filho dela sabe.
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